domingo, 8 de janeiro de 2012

Stephen Hawking não comparece a simpósio pelos seus 70 anos

O astrofísico britânico Stephen Hawking não compareceu, por motivos de saúde, ao simpósio organizado neste domingo, em Cambridge, pelos seus 70 anos.
"Stephen não se sentia muito bem. Saiu do hospital na sexta-feira", declarou o professor Leszek Borysiewicz, vice-presidente da universidade inglesa, pouco antes de começar o simpósio, com a participação de numerosos cientistas.
O astrofísico, há quase 50 anos afetado por uma doença neurodegenerativa que o mantém paralisado em uma cadeira de rodas e o obriga a se comunicar por meio de um computador, poderá acompanhar a reunião sobre "O estado do Universo" graças a uma transmissão pela internet.
Em uma mensagem gravada anteriormente, Hawking destacou "a glória de estar vivo e realizando pesquisas", defendeu a "continuação das viagens ao espaço pelo futuro da Humanidade" e disse não acreditar que "sobrevivamos outros mil anos sem poder escapar de nosso frágil planeta".
No dia de seu aniversário de 70 anos, o Centro de Cosmologia Teórica da Universidade de Cambridge, dirigido por Hawking, organizou um ato público para o qual as entradas se esgotaram semanas antes.
Este simpósio sobre "O estado do Universo" foi precedido por uma conferência em que cientistas de prestígio mundial analisaram a situação atual em matéria de buracos negros, cosmologia e física fundamental, temas em que os trabalhos de Hawking se concentram.
Nascido em Oxford, na Inglaterra, dia 8 de janeiro de 1942, no tricentenário da morte de Galileu, Hawking sempre acreditou que a ciência era seu destino e, aconselhado pelos médicos, concentrou todas as suas energias no estudo da cosmologia.
"Quando Stephen já não podia usar suas mãos e manipular equações no papel, compensou isso treinando a manipulação de formas complexas em sua mente a grandes velocidades. Essa capacidade permitiu que ele encontrasse soluções para difíceis problemas da física que ninguém mais poderia resolver e, provavelmente, nem ele mesmo seria capaz sem essa nova habilidade", disse o físico teórico americano Kip Thorne, um de seus colaboradores.
Durante sua carreira, Hawking recebeu inúmeros reconhecimentos e ocupou durante 30 anos a Cátedra Lucasiana de Matemáticas de Cambridge. Em sua vida privada, Hawking casou duas vezes e tem três filhos.

Segundo médicos, Hawking viveria poucos anos; hoje ele faz 70

Hawking experimenta a sensação de gravidade zero durante voo da Nasa, em 2007. Foto: AP
Hawking experimenta a sensação de gravidade zero durante voo da Nasa, em 2007



MATHEUS PESSEL
Aos 17 anos, então na Universidade de Oxford, Stephen Hawking começou pela primeira vez a se interessar por esportes e se aventurou no remo. Após três anos, ele começou a se sentir mais "atrapalhado" e caía facilmente - aparentemente sem razão. Aos 21 anos, quando já era pesquisador na Universidade de Cambridge, seu pai decidiu leva-lo ao médico da família, que, por sua vez, o encaminhou a um especialista. Hawking passou por exames em um hospital e os médicos disseram que seu caso era incomum, sem cura e que tenderia a piorar com o tempo. Era a esclerose lateral amiotrófica (ELA), doença que tirou ao longo dos anos seus movimentos.
O físico ganhou prestígio no mundo acadêmico devido a suas pesquisas sobre o Big Bang (que deram suporte à teoria) e, principalmente, suas teorias sobre os buracos negros - que explicam entre outras coisas, como esses fenômenos emitem radiação (chamada hoje de radiação Hawking). Ao grande público, Hawking apareceu a partir de livros que explicam as principais teorias físicas e participações em séries de TV. Neste domingo, ele completa 70 anos de idade.
Ao receber o diagnóstico da doença, Hawking ouviu dos médicos que ele teria apenas dois anos de vida pela frente. O físico disse que foi um choque. Ele não teria tempo sequer de terminar sua pesquisa de doutorado. O máximo que poderia fazer para combater a doença era tomar algumas vitaminas.
Em seu site pessoal, Hawking relata o que pensava na época: "Como pôde isso acontecer comigo? Como eu posso terminar assim?". Mas foi ainda no hospital que ele mudou. "No entanto, enquanto eu estava no hospital, eu tinha visto um menino que eu conhecia vagamente morrer de leucemia, na cama ao lado da minha. Não foi uma boa visão. Claramente, havia pessoas que estavam em situação pior do que a minha. Pelo menos, a minha condição não me fazia sentir doente. Sempre que me sinto inclinado a sentir pena de mim mesmo, eu me lembro daquele menino", diz. Hawking diz que sua vida antes da doença era muito chata. Mas depois que foi diagnosticado, decidiu fazer algo bom antes de morrer. "Mas eu não morri. Na verdade, apesar de haver uma nuvem escondendo o meu futuro, eu descobri, para a minha surpresa, que eu estava gostando da vida mais do que antes. Eu fazia progresso na minha pesquisa, e eu fiquei noivo de uma garota chamada Jane Wilde". Hawking se separou e casou novamente. Ele tem três filhos e três netos.
A doença
A esclerose lateral amiotrófica (ELA) se origina de uma predisposição genética, como Parkinson ou Alzheimer, e afeta a medula espinhal - o resultado é a falta de força. "É um problema que afeta os movimentos, a força. E os músculos começam a atrofiar, inclusive os músculos que precisamos para respirar (...) chega um momento que o pulmão não inspira mais, e é necessária respiração artificial", diz Pedro Schestatsky, professor da pós-graduação de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador de distúrbios do movimento. Os pacientes, afirma o professor, morrem por insuficiência respiratória. O mal é incurável.
"É cada vez mais comum (pacientes que sobrevivem mais tempo à doença) porque houve muito desenvolvimento de aparatos respiratórios. Houve desenvolvimento também de medicamentos que retardam a doença. Mas (quando Hawking foi diagnosticado) não havia remédio e não tinha a respiração (mecânica)", diz Schestatsky.
No caso de Hawking, afirma o professor, surpreende ainda o fato de ele ter desenvolvido a doença muito jovem, com 21 anos - a maior parte dos pacientes apresenta sintomas após os 50 anos. O médico afirma que o britânico tinha uma ELA de lenta evolução, o que o ajudou a sobreviver.
Enfrentando a doença
O físico diz que até 1974 ele conseguiu se alimentar e sair da cama sozinho, mas a coisa começou a piorar. Em 1985, ele sofreu com uma pneumonia que o levou a uma traqueostomia e à perda da fala. Sua condição piorou e começou a receber ajuda de enfermeiras 24 horas por dia, graças ao apoio de fundações que conheciam seu caso.
Hawking conta que antes da operação sua fala estava ficando pior e somente as pessoas mais próximas ainda conseguiam entendê-lo. Ele produzia artigos ditando para sua secretária e proferia palestras com a ajuda de um "tradutor" que repetia suas palavras mais claramente.
Uma nova voz
Foi um especialista em computadores da Califórnia, Walt Woltosz, quem levou a solução ao britânico. Woltosz enviou à Inglaterra um programa de computador que ele havia criado. O software sintetiza voz a partir de palavras selecionadas em uma tela, simplesmente piscando o olho. David Mason, de Cambridge, adaptou o sistema a um computador portátil acoplado à cadeira de rodas de Hawking.
O pesquisador diz que a mudança o permitiu falar melhor do que antes da operação. "Eu posso controlar até 15 palavras por minuto. Eu posso falar o que escrevi, ou salvar em disco. Posso, então, imprimir, ou usar o que ficou para trás e falá-lo (o texto) frase por frase. Usando este sistema, eu escrevi um livro e dezenas de artigos científicos. Eu também tenho dado muitas palestras científicas e populares. Todas elas foram bem recebidas."
Fama
Hawking recebeu prêmios e medalhas durante toda a carreira, que começou com defesas da teoria do Big Bang e continuou com estudos sobre os buracos negros. Entre 1979 e 2009, ocupou a cadeira lucasiana - que já foi de Isaac Newton e de Paul Dirac - de Cambridge (a tradição de Cambridge manda que o ocupante deixe esse posto antes dos 67 anos). Ele continua ativo nas pesquisas no Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica e é diretor de pesquisa do Centro de Cosmologia Teórica, criado pelo próprio Hawking.
Em 1988, Hawking lançou seu primeiro livro para o público em geral, em parceiro com o pesquisador do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) Leonard Mlodinow: Uma breve história do tempo. O sucesso foi enorme e levou a uma série de livros populares escritos por Hawking, alguns em parceria com Mlodinow.
Hoje, Hawking certamente é o cientista mais famoso do planeta. Um documentário do Channel 4 mostra pilhas de cartas que ele recebe de fãs, muitas com teorias que vão de viagens no tempo a invasões alienígenas. Em um programa da também britânica BBC, o teórico é chamado de personalidade global. "Ele é uma das pessoas mais famosas do planeta. Talvez o único verdadeiro cientista celebridade", diz a TV, enquanto mostra ruas cheias durante uma passagem do físico em uma universidade espanhola.
Hawking se tornou tão pop que apareceu em seriados de TV - como Os Simpsons e Star Trek: The Next Generation (Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, no Brasil).
"Ele é um especialista que sabe comunicar, uma coisa que outros especialistas não conseguem ou não se interessam - em saber comunicar. Mesmo que não seja algo deliberado", diz Lígia Campos de Cerqueira Lana, pesquisadora de doutorado sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris) e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
"Ele sabe o que fala. E ele também tem talento. É uma diferença que tem com esses personagens públicos que aparecem e somem. (...) Eles são descartáveis, é como se eles não tivessem talento suficiente para permanecer. O Stephen Hawking está ali porque ele tem talento", afirma a pesquisadora.
"Uma terceira coisa (que explica sua fama): ele é um modelo de superação. Apesar de estar imobilizado, de ter uma série de dificuldades, ele supera isso e consegue continuar trabalhando. Uma das coisas que buscamos no personagem público é o reconhecimento (...) é como se quando a gente olhasse para uma figura pública, a gente buscasse alguns modelos que sejam conhecíveis para nós como sendo algo potencialmente bons", diz Lígia, que pesquisa como as celebridades ascendem à fama.
"O Stephen Hawking, do jeito dele, não é só como uma bunda grande, só uma voz bonita. Ele está numa cadeira de rodas, não consegue falar direito, mas tem uma presença midiática", afirma.
Para Lígia, a existência de um cientista celebridade é muito importante, pois abre portas para que outros pesquisadores levem a ciência ao grande público. "O sucesso de um especialista é muito positivo. Os cientistas não podem ter medo de falar com as pessoas. A ciência tem que voltar para o senso comum, não pode ficar na torre de marfim dos laboratórios", diz a pesquisadora.

Stephen Hawking completa 70 anos dedicados ao universo

O cientista britânico Stephen Hawking, autor de Uma Breve História do Tempoque passou a vida tentando desvendar os mistérios do universo, completa neste domingo 70 anos sem ter perdido o entusiasmo pelo cosmos.
Apesar de em 2009 ter se retirado da Cátedra Lucasiana de Matemática da Universidade de Cambridge, da qual era titular, da mesma forma que Isaac Newton foi um dia, Hawking mantém contato com o mundo científico e amanhã falará perante seus colegas desse centro de estudos sobre "O estado do universo".
Nascido em Oxford, no sul da Inglaterra, no dia 8 de janeiro de 1942, Hawking é um exemplo do triunfo frente à adversidade já que em sua juventude foi diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa progressiva que lhe impede de se movimentar, e fala com a ajuda de um sintetizador de voz.
Ao longo do tempo, Hawking foi perdendo o movimento de suas extremidades e da musculatura, inclusive a força do pescoço para manter-se com a cabeça erguida.
Por ocasião do aniversário de Hawking, o professor Martin Rees, astrônomo do Trinity College de Cambridge, disse que quando conheceu o cientista os dois eram estudantes e pensava que seu companheiro não viveria muito mais por conta de sua doença.
"Foi incrível, chegou aos 70 anos, se transformou sem dúvida no cientista mais famoso do mundo, aclamado por pesquisas brilhantes, por seus livros mais vendidos e, principalmente, por seu incrível triunfo frente à adversidade", afirmou Rees aos meios de comunicação britânicos.
Além de ser considerado um dos cientistas mais renomados, Hawking é tão famoso como qualquer estrela da música ou do cinema, pois participou de um episódio da série de televisão Star Trek e emprestou sua voz para um comercial da empresa de telecomunicações BT.
Mas é famoso principalmente por ter mostrado, ao lado de seu colega Roger Penrose, que a Teoria da Relatividade de Albert Einstein implica que o espaço e o tempo hão de ter um princípio, o chamado "Big Bang", e um final dentro dos buracos negros.
Hawking também criou polêmica no campo religioso por acreditar que a ideia do paraíso e da vida depois da morte é um "conto de fadas" criado por gente que tem medo da morte.
Em declarações dadas no ano passado, o cientista enfatizou sua rejeição às crenças religiosas e considerou que não existe nada depois do momento que o cérebro para de funcionar.
"Eu considero o cérebro um computador que deixará de funcionar quando falharem suas peças. Não há paraíso ou vida depois da morte para os computadores que param de funcionar, esse é um conto de fadas de gente que tem medo da escuridão", disse o cientista de Cambridge.
Além disso, Hawking afirmou várias vezes que não tem medo da morte. "Vivi com a perspectiva de uma morte prematura durante os últimos anos. Não tenho medo de morrer, mas também não tenho pressa de morrer. Quero fazer muita coisa antes", declarou.
Também nestes dias voltou a ser notícia ao revelar em entrevista à revista New Scientist que as mulheres são "um completo mistério" ao qual dedica a maior parte de seus pensamentos.
Hawking foi agraciado com a Ordem do Império Britânico em 1982 e com o Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia em 1989, além de outras distinções que lhe foram concedidas ao longo dos anos.